Depois de alcançar novo patamar histórico durante pregão, divisa recua. Leilões somaram US$ 8 bilhões, na maior venda diária desde quando o país adotou o regime de câmbio flutuante
O dólar opera em forte volatilidade nesta quarta-feira. A moeda alcançou os R$ 6,10, em recuo de 2,6%, após a injeção de US$ 8 bilhões do Banco Central, declarações conjuntas de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto e a aprovação do texto-base da PEC que faz parte do pacote fiscal no Câmara, apesar da desidratação das medidas iniciais.
Ao todo, foram US$ 8 bilhões vendidos nesta quinta-feira nos leilões no mercado à vista, na maior intervenção diária já feita desde 1999, quando o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante.
Foram dois leilões. Um primeiro, de US$ 3 bilhões, não foi suciente para estancar a queda da divisa brasileira. Mais tarde, outro, de US$ 5 bilhões, foi o maior leilão à vista já feito pelo BC desde 1999.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta quinta que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que a cotação da moeda norte-americana sobe e desce de acordo com as operações no mercado, mas avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano.
Campos Neto aproveitou para dar um recado ao mercado financeiro: disse que o Banco Central "tem muita reserva [internacional, acima de US$ 350 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário".
Ele reiterou, várias vezes, que não há defesa de preço do dólar por parte do Banco Central.
— Mas há a percepção de que, se o BC não atuar, pode haver uma disfuncionalidade de preços [no dólar]. É para isso que existem as reservas — afirmou.
Segundo analistas, o movimento mais firme aconteceu depois da apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, realizada por Gabriel Galípolo e Campos Neto.
Na visão de Gustavo Porto, gestor de renda fixa da Porto Asset, as falas conjuntas do atual e futuro presidente do BC e o resultado da injeção são os fatores que jogam para baixo o valor da moeda:
— Os dois componentes ajudam a melhora do real hoje: a venda pelo Banco Central, em um volume que chama a atenção, e as falas conjuntas do Roberto Campos e do Galipolo, esclarecendo que estão atendendo a uma demanda pontual do mercado, sem intenção de interferir no nível. As falas dos dois apontam para uma maior credibilidade do Galípolo — pontua ele.
O atual diretor de Política Monetária toma posse no comando da autoridade monetária no próximo dia 1º de janeiro.
Manhã foi de forte oscilação
A divisa abriu o dia em baixa, mas logo se valorizou. Em seguida, sofreu a primeira intervenção do Banco Central, de US$ 3 bilhões, mas mesmo assim alcançou R$ 6,30. Logo depois, a instituição anunciou mais uma injeção e acolheu outros US$ 5 bilhões em propostas, totalizando US$ 8 bilhões em apenas um dia.
A partir daí, a moeda aprofundou as perdas, cedendo mais de 1%. Às 11h30, caía 1,48%, a R$ 6,17.
A moeda americana fechou ontem em recorde de R$ 6,26, com a crise de confiança em relação à política fiscal do governo e a sinalização do banco central americano de que haverá menos cortes de juros no país em 2025.
O câmbio de R$ 6,30 desta quinta renovou o recorde nominal intraday (cotação enquanto as negociações do mercado estão abertas) em toda a história do Plano Real, mas, se continuar a operar abaixo de R$ 6,20, a moeda não fechará em novo patamar histórico. No ano, a valorização já está em quase 30%.
Votação do pacote fiscal
Um dos fatores que vão mexer com o mercado nesta quinta-feira serão as votações no Congresso. Está prevista a votação na Câmara de mais dois pontos do pacote fiscal: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe o acesso ao abono salarial e prorroga a desvinculação de receitas do governo e o projeto que muda a regra de reajuste do salário mínimo e trata de critérios do concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e deficientes de baixa renda.
Ontem, foi aprovado na Casa texto que permite bloquear emendas parlamentares para que as metas do arcabouço fiscal sejam cumpridas. O projeto também integra o conjunto de medidas de contenção de despesas, mas foi desidratado na Câmara, permitindo o bloqueio de apenas parte das emendas.
Esse projeto será apreciado pelo Senado hoje. Não se sabe se será possível que os dois outros textos que serão analisados pelos deputados poderão ser votados pelos senadores ainda nesta quinta-feira.
O governo corre contra o tempo, pois precisa aprovar essas propostas ainda nesta semana, antes do recesso de fim de ano do Congresso.
ℹ️ O Globo
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